OS MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS
Medicamento homeopático é
qualquer substância, submetida a um processo conjunto de diluição e
dinamização, capaz de provocar tanto o surgimento de sintomas físicos e
psíquicos no homem sadio como o desaparecimento destes mesmos sintomas numa
pessoa doente. Convém esclarecer, desde já, que um medicamento não é
homeopático apenas por ser preparado de acordo o método das diluições
sucessivas, mas somente quando é prescrito segundo o princípio da semelhança,
guardando o máximo de semelhança com os sintomas do paciente.
Muitas pessoas enganam-se
pensando que estão se tratando com medicamentos homeopáticos quando, em
realidade, estão apenas utilizando “medicamentos destinados a uso homeopático”,
ou seja, não está tratando homeopaticamente quando o princípio da semelhança
não é obedecido. Isto esclarece por que o médico homeopata especializado não
prescreve apenas função do diagnóstico clínico, mas considera cada paciente com
seus sintomas específicos, com sua particular maneira de adoecer.
Os medicamentos homeopáticos são
preparados a partir de substâncias pertencentes aos três reinos da natureza:
vegetal, animal e mineral.
O reino vegetal origina a
maioria dos medicamentos homeopáticos, o que contribui para confundir a
homeopatia com a fitoterapia, ou terapêutica pelas plantas (chás). Em geral se
utilizam plantas selvagens recolhidas em seus habitats naturais, apresentando o
máximo de crescimento e frescor, diferentemente das preparações alopáticas, que
usualmente se valem de plantas dessecadas resultantes de cultivo artificial.
Atropa belladonna (beladona), Opium (ópio), Allium cepa (cebola), Coffea cruda
(café), são exemplos de medicamentos homeopáticos vegetais (note que todos os
medicamentos homeopáticos são identificados com o nome científico da planta ou
do animal em latim, ou o correspondente nome latino do mineral, o que torna
facilmente identificável o medicamento em qualquer parte do mundo).
Do reino animal a homeopatia
prepara medicamentos usando quer os animais inteiros, como Apis mellifica (abelha),
Formica rufa (formiga vermelha), Cantharis (cantárida), quer
produtos fisiológicos como secreções, venenos de cobras (como Lachesis muta,
preparado do veneno da surucucu) ou produtos patológicos, constituindo os
nosódios (como Tuberculinum, Medorrhinum, Psorinum, Syphilinnum,
entre outros).
No reino mineral, utilizam-se as
substâncias puros como Aurum (ouro), Sulphur (enxofre), Phosphorus
(fósforo) e suas preparações orgânicas e inorgânicas (como Arsenicum
album – arsênico – ou o Natrum muriaticum, o popular sal de cozinha)
ou então produtos sintéticos como o Phenobarbitallum (fenobarbital,
medicamento anti-convulsivante), Salicylicum acidum (ácido salicílico,
analgésico e antitérmico), ao lado de algumas preparações homeopáticas
complexas, como Causticum e Hepar sulphur. Contrariamente ao que
habitualmente se pensa, os medicamentos de origem mineral são os de ação mais
profunda e duradoura.
Ao lado dos medicamentos ditos
homeopáticos, queremos chamar a atenção para um grupo de medicamentos que,
apesar de preparados a partir de extratos de órgãos animais diluídos e
dinamizados segundo a farmacotécnica homeopática, não são verdadeiramente
homeopáticos: são os chamados organoterápicos, como o Thyroidinum, Hypothalamum
e outros. A sua atividade, se realmente ocorre, não se faz de acordo com o
princípio da semelhança, pois não se realizam experimentações conclusivas dos
seus efeitos no homem são. Se fosse suficiente uma diluição de fígado para
curar todos os distúrbios hepáticos, de cérebro para a cura dos deficientes
mentais, a terapêutica médica
seria uma grande
lista de receitas de bolo! E muito menos a homeopatia, com a sua marca
característica de individualizar cada pessoa com a sua doença.
PREPARAÇÃO
A preparação do
medicamento homeopático obedece a normas precisa e definidas pelas diversas
farmacopéias (tratados sobre a composição e preparação de medicamentos)
homeopáticas, a partir das orientações básicas enunciadas por Hahnemann já em
1810, na primeira edição do Organon. No Brasil, a Farmacopéia Homeopática
Brasileira foi oficializada pelo Governo Federal através do Decreto nº 78.841,
de 25.11.76, e revista e complementada em 1977 pelo Ministério da Saúde.
Resumidamente, a
preparação do medicamento homeopático se processa em duas etapas, diluição e
dinamização, que conferem a potência de cada medicamento. A etapa de diluição
(ou trituração em lactose, para as substâncias insolúveis em água ou no álcool)
consiste em dissolver uma quantidade da 0substância pura medicamentosa em
quantidades determinadas de cada veículo (1:10 na escala decimal e 1:100 na
escala centesimal, a mais usada). O veículo mais empregado consiste numa
solução de água e álcool, comumente numa diluição de 70%. A etapa de
dinamização consiste numa seqüência de 100 movimentos verticais de agitação da
mistura, ou sucussões, que conferem a cada preparação diluída uma potência
específica.
Assim, se você
receber uma prescrição de Natrum muriaticum C30, deve saber que vai tomar uma
potência trigésima centesimal do sal de cozinha, ou seja, uma diluição 1:100
trinta vezes de 1 g do cloreto de sódio marinho. Se a prescrição fosse Natrum
muriaticum D30 (ou 30X) você estaria tomando um remédio diluído de 1:10 trinta
vezes, na potência trigésima decimal.
APRESENTAÇÃO
As triturações,
as tinturas-mães (resultantes de ação extrativa, por contato prolongado, do
veículo alcoólico sobre o fármaco vegetal ou animal) e as diluições são as
preparações fundamentais. Constituem etapas básicas na preparação das formas
farmacêuticas aviadas aos pacientes.
O medicamento
homeopático é absorvido por via sublingual, o que torna a sua administração
bastante facilitada. Além da apresentação sob a forma de pós (os chamados
“papéis”), comprimidos, tabletes e sob a forma líquida, a homeopatia dispõe de
uma forma exclusiva de apresentação especialmente atraente e prática: os
glóbulos, pequenas bolinhas constituídas de sacarose ou de uma mistura de
sacarose com lactose. Os glóbulos são impregnados deixando-os em contato com a
diluição da potência pretendida, tomando a designação da diluição em que foram
embebidos. Por exemplo, glóbulos etiquetados de Belladonna C6 impregnados com
uma sexta diluição centesimal alcoólica de Atropa belladonna.
COMERCIALIZAÇÃO
No Brasil,
existem várias normas legais que regulamentam a produção e comercialização de
medicamentos homeopáticos. De acordo com a lei, a farmácia homeopática só
poderá manipular fórmulas oficinais e magistrais, obedecida a farmacotécnica
homeopática. As farmácias devem funcionar sob a responsabilidade de um
farmacêutico com especialização em homeopatia.
Existem várias
categorias de remédios homeopáticos. Em linhas gerais, podemos falar de
preparações homeopáticas unitárias e complexas. As preparações homeopáticas
unitárias contêm um só medicamento em sua composição (tal como Apis mel. C6),
enquanto as preparações homeopáticas complexas (popularmente conhecidas como
“complexos” ou “específicos” homeopáticos) constituem-se numa mistura de
diferentes medicamentos homeopáticos, em idênticas ou diferentes potências. A
formulação abaixo é um exemplo de uma formulação homeopática complexa:
Hydrastis
Sabadilla
Pulsatilla C3 (1FRASCO DE 30 ML)
Allium cepa
Solidago
Somente o
laboratório farmacêutico homeopático está autorizado a manipular e fabricar
produtos oficinais e outros de uso em homeopatia para venda a terceiros, bem
como fabricar complexos homeopáticos com até 5 medicamentos associados de
comprovada ação terapêutica.
Os complexos
homeopáticos, identificados pelos laboratórios fabricantes com nomes de
fantasia ou com números, ao mesmo tempo ajudam e prejudicam o desenvolvimento
da homeopatia. Como cada complexo é constituído de vários medicamentos com ação
diferenciada em determinados sintomas, torna-se possível algumas vezes “acertar
o alvo” e aliviar o paciente. Por exemplo, um complexo constituído de Veratrum
album C3, Arsenicum album C3 e Podophyllum C2 é indicado por um laboratório
homeopático para o tratamento de “diarréia aquosa”. Entretanto, analisando-se a
matéria homeopática constata-se que mais de 50 medicamentos podem estar bem
indicados para o tratamento de tais quadros, em função dos sintomas
particulares de cada doente com este tipo de diarréia.
Além do mais,
alguns complexos homeopático contém em sua formulação substâncias não diluídas
de acordo com a farmacotécnica homeopática, como é o caso da fenolftaleína que
integra a fórmula de alguns “específicos” homeopáticos propagandeados como
úteis no tratamento da obesidade e da constipação.
Nunca se esqueça:
na homeopatia não existem remédios-padrões ou específicos, mas apenas, e sempre
remédios individualizados, adaptados a cada caso em particular. Para cada
doente seu remédio, o mais semelhante possível seu remédio, o mais semelhante
possível ao conjunto dos seus sintomas (psíquicos, gerais e locais): isto sim é
Homeopatia com H maiúsculo.
DISTORÇÕES COMUNS
Como algumas
farmácias homeopáticas também vendem chás, vitaminas, complementos dietéticos,
produtos cosméticos e de higiene, muitos deles fabricados por laboratórios
homeopáticos, muitas pessoas pensam que estes produtos são homeopáticos. Puro
engano. Não existem dentifrícios, desodorantes, chás, vitaminas ou até
complementos dietéticos “homeopáticos”. Homeopático é apenas e tão-somente o
medicamento preparado de acordo com a farmacotécnica homeopática.
Os medicamentos
homeopáticos, mesmo tendo origem em venenos como arsênico ou mercúrio, não
intoxicam nem têm efeitos colaterais porque sofrem diluições elevadas, perdendo
assim sua ação tóxica. Alguns argumentam ingenuamente que a homeopatia não age
porque, quando crianças, tomaram tubos e tubos de glóbulos, quando não estavam
doentes, e nada acontecia. É óbvio: se a pessoa não precisa do medicamento, e
não é sensível a ele, não haveria intoxicação nem o surgimento de sintomas
desagradáveis. Se o indivíduo é sensível, entretanto, podem surgir sintomas que
denunciam a ação patogenética do medicamento, os quais comumente desaparecem em
poucos dias se se deixa de ingerir o remédio.
Não está ainda
provado, e é um tema muito polêmico entre os homeopatas, se drogas como o café,
menta (sob a forma de dentifrícios, pastilhas ou cigarros), cânfora e camomila
interferem com a ação medicamentosa do remédio homeopático.
Por outro lado,
geralmente não há incompatibilidade farmacológica no uso simultâneo de
medicamentos homeopáticos e alopáticos, que atuam através de mecanismos de ação
diferentes e complementares. O inconveniente no uso de medicamentos alopáticos
ANTI – febre, dor, tosse, inflamação, vômito, diarréia, etc. – reside na
supressão ou “abafamento” dos sintomas acima (que indiscutivelmente representam
reações defensivas do organismo), o que também dificulta a prescrição do
simillimum homeopático pela deficiência de sintomas de que o médico passa a
dispor. Os corticóides e imunossupressores, drogas potentes e de desastrosos
efeitos colaterais, parecem exercer uma interferência negativa quando usados
concomitantemente ao medicamento homeopático (o que não ocorre em todos os
casos, de acordo com a nossa experiência), possivelmente pela sua ação
depressora ao nível do sistema imunológico.
A recomendação
médica de evitar excitantes como o fumo, álcool, café, bem como utilizar
regimes alimentares mais equilibrados e naturais não é exclusiva dos
homeopatas, mas constitui-se numa orientação voltada predominantemente para a
conservação da saúde e prevenção de doenças do indivíduo, preocupação de todo
médico empenhado em exercer com dignidade e competência a arte e ciência da
medicina.
Extraído do Livro - DANTAS, Flávio. O que é Homeopatia. 4ª ed. São
Paulo, Brasiliense, 1989. Col. Primeiros Passos, v. 134
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