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quarta-feira

Sindroma de Deficiência Postural

Síndroma da deficiência postural


Dra. Teresa Garcia Escudeiro

Por exemplo, podemos passar entre uma porta sem lhe tocar, subir e descer escadas sem pensar na posição dos pés, ver a que distâncias estão objectos, apanharmos uma bola no ar, desviarmo-nos de um obstáculo, etc.

 

Quando este sistema se lesiona devido à sobrecarga de agressões posturais constantes, estas como não conseguem ser compensadas, falham e permitem que o corpo receba informações erradas que baralham a percepção que o cérebro tem sobre a posição das diferentes partes do corpo. As consequências desta falha do sistema são inúmeras, e nela manifestam-se as perturbações de aprendizagem.



Um dos médicos mais especializados mundialmente nesta patologia é o Doutor Orlando Alves da Silva, oftalmologista, que tem divulgado os trabalhos do médico fisiatra Martins da Cunha e contribuído muito em estudos, tratamentos e divulgação do SDP.


A disfunção do Sistema Proprioceptivo é a causa dos múltiplos sintomas que caracterizam o SDP.



Alguns dos factores que hoje se conhecem como contribuidores nas dificuldades de aprendizagem em crianças são descritos pelo Doutor O. Alves da Silva como quadro clínico da SPD, eles são:

Défice de convergência tónica – A criança sente fadiga ocular e interrompe a leitura;

Escotomas – A criança quando lê pode saltar palavras, por exemplo na palavra guarda-chuva, pode ler apenas guarda ou chuva, convencida que leu a palavra toda.

Memória – A criança num dia sabe a matéria estudada, no dia seguinte falha as respostas no teste.

Concentração – A criança está sempre distraída.

Interpretação – Quando interpreta um texto a criança só memoriza a última parte.

Hiperactividade – A criança pode manifestar dois tipos de comportamento ou muito calmos para ninguém dar conta dos seus erros ou muito irrequietas e indisciplinadas.

Erros de localização espacial – A criança tem dificuldade em organizar os cadernos, a letra é irregular, quando lê salta linhas do texto sem dar conta, dá mais erros na cópia que no ditado, é desastrada e cai com frequência.

Perda de Autoestima – Por serem crianças inteligentes que procuram dar o seu melhor, apercebem-se da sua incapacidade e sentem-se injustiçadas por as rotularem de cabeças no ar, preguiçosas e desastradas.

Perturbações de processamento do texto – A criança pode manifestar um quadro de Dislexia clássica, troca as letras e a localização na palavra é percebida erradamente.

Percepção auditiva – A criança pode ter dificuldade em perceber em tempo real o que lhe foi transmitido, outras vezes a criança ouve mas não consegue descodificar o que ouve.


Quando nos expomos a posturas incorrectas, como referido anteriormente, estas podem lesionar o sistema proprioceptivo, e assim desenvolver a SDP.

Este Sistema Proprioceptivo está sempre presente no nosso corpo e contribui para o nosso equilíbrio e deslocamento.

O SDP pode manifestar-se em crianças, jovens ou adultos, mas é nas crianças que podemos detectar mais precocemente se não ignorarmos os sinais e sintomas.

Os erros posturais a que somos sujeitos desde crianças, passam pelas coisas mais simples, o colchão da cama que é demasiado mole e o corpo fica numa posição de deformação, as horas que passamos a ver televisão sentados num sofá onde ficamos em posições assimétricas com alterações graves para a nossa coluna vertebral, as mochilas desajustadas e com peso excessivo, o calçado que levanta à frente o pé permitindo um apoio errado ao solo, o mobiliário escolar desajustado entre outros.

A partir dos 3 anos de idade já é possível verificar se a criança tem perturbações do Sistema Proprioceptivo, e proceder à sua correcção.



O conjunto de sinais e sintomas do quadro clínico do SDP é comum a muitas patologias pelo que o diagnóstico diferencial não é fácil.

Exige um profundo conhecimento do quadro clínico e do paradigma que o sustenta: a propriocepção.

O SDP é de origem funcional logo não pode existir uma lesão orgânica.

Alguns dos principais sintomas descritos por Alves da Silva para o SDP são:



- Desequilíbrio;

- Patologia muscular dolorosa;

- Perturbações de localização espacial;

- Perturbações dos movimentos oculares;

- Alterações da percepção sensorial;

- Dislexia e perturbações de aprendizagem;



Em crianças os pais e educadores/professores devem estar particularmente atentos a alguns sinais, como: A criança que cai com frequência sem razão aparente, anda e corre com os pés tipo 10 para as 2, utiliza uma linguagem “abebezada” até aos 4/5 anos, mostra dificuldades em descodificar os sons, morde a bochecha internamente sem querer, deixa cair objectos e tem dificuldade em organizá-los no seu espaço, não consegue estar quieta, gasta os sapatos na parte de trás e para fora, quando frequenta o 1º ciclo pode demonstrar dificuldades em copiar, trocar letras, escrever em espelho, ler e escrever “deitada” por cima da mesa, ficar cansada rapidamente ao executar estas tarefas, e ter dificuldade no esquema corporal. Alguns destes sinais e sintomas podem revelar que a criança sofre de perturbações do Sistema Proprioceptivo e pode desenvolver Sindroma de Deficiência Postural.



É recomendado que perante um conjunto de sinais e sintomas descritos no quadro clínico do SDP, haja uma orientação dos pais e da criança para o seu acompanhamento em equipa multidisciplinar de saúde, na realização de testes específicos e exames de diagnóstico, que confirmem o SDP.

Médico pediatra e/ou de família, oftalmologista especializado em posturologia, dentista, psicólogo, fisioterapeuta, osteopata, terapeuta da fala, e técnico de educação especial e reabilitação deverão fazer parte integrante nessa equipa de intervenção.



Nas crianças a principal consequência são as dificuldades de aprendizagem e com tudo o que isso acarreta podendo tornar a vida destas muito difícil, exigindo-se mais do que elas podem dar. E também alterações do foro neuro-musculo-esquelético, por exemplo surgimento de escolioses e contracturas musculares.



Existem tratamentos adequados quando as dificuldades de aprendizagem são devidas a disfunções do sistema proprioceptivo.

O tratamento do SDP, consiste em colocar o Sistema Proprioceptivo a captar correctamente e de forma funcional os estímulos provenientes do meio ambiente. Para tal é necessário trabalhar na origem, ou seja, nas entradas proprioceptivas. As principais são: os pés, os músculos, as articulações têmporo-mandibulares (ATM), o Sistema Visual e o Sistema Vestibular.

Os tratamentos compõem-se em três intervenções/técnicas principais:



- Lentes prismáticas posturais

Que são óculos normais com lentes diferentes das que estamos habituados a ver na população em geral. São lentes prismáticas utilizadas para a correcção postural que diferem das lentes usadas para corrigir desvios oculares. As lentes prismáticas são activas e produzem um relaxamento nos músculos oculomotores, e desta forma esse relaxamento transmite-se a todos os músculos do corpo a eles associados podendo, se for este o caso, eliminar os sintomas de postura incorrecta.



- Reprogramação postural

Aqui são utilizadas técnicas que informam o doente sobre a postura correcta que deve utilizar no dia-a-dia em todos os segmentos corporais, como o treino respiratório, treino de relaxamento, a correcção postural e o uso de palmilhas posturais nos sapatos.





- Técnicas psicopedagógicas

Enquanto o Sistema Proprioceptivo se encontrava em disfunção as informações que chegavam ao cérebro eram mal percepcionadas e muitas vezes aprendidas incorrectamente. Com a colocação das lentes prismáticas e a reprogramação postural há que eliminar os erros que ficaram registados e aprender a receber as novas informações vindas do exterior. É também fundamental trabalhar a baixa auto-estima uma vez que os estragos provocados pelo SDP nesta área desenvolveram-se em crianças e adultos ao longo das suas vidas por desconhecimento da patologia com que se encontravam.

A correcção destes aspectos tratam o Síndrome de Deficiência Postural e a sintomatologia existente melhora e, em alguns casos, desaparece.



É possível prevenir. Alguns dos conselhos de prevenção do SDP passam por pequenos gestos:



- As mochilas usadas pelas crianças não devem ser demasiado grandes nem ter demasiado peso (não deve ultrapassar 10% do seu peso corporal), devem ser usadas com as duas alças e ter cintos à frente no peito e cintura para uma melhor distribuição do peso;



- O calçado deve permitir que o dedo grande se dirija para a frente e fique totalmente apoiado. O calçado que arrebite à frente não deve ser utilizado;



- O vestuário não deve ser muito apertado na cintura. Deve ter a mesma altura atrás e à frente;



- O colchão da cama deve ser duro, sendo apenas flexível para não magoar o corpo;



- O mobiliário: a cadeira deve permitir que os pés assentem bem no chão, se necessário deve colocar-se um apoio debaixo dos pés que fique paralelo e nunca oblíquo ao chão.

O sofá não deveria ser tão utilizado, e quando necessário deve sentar-se mais na borda e não se encostar para trás.

A mesa deve ser inclinada de forma a permitir a leitura com o livro inclinado a 30º;



- Aos educadores/professores e às suas escolas, quando escolherem um novo mobiliário para as suas salas de aula, devem escolher mobília que possa ser ajustada a cada criança, que tenha plano inclinado e apoio para os pés;



- Promover bons hábitos posturais nas salas de aula, atribuindo-se uma nota para a boa postura;



- As escolas devem organizar acções de formação para sensibilizar educadores/professores, pais e crianças no combate às agressões posturais a que se sujeitam diariamente.



Os pais devem procurar ajuda clínica, em centros especializados com equipas de saúde multidisciplinares capazes de dar resposta para estes problemas. A colaboração dos pais e/ou das pessoas que convivam com crianças com SDP é essencial no seu tratamento.

Educadores/professores devem colaborar o mais possível com a equipa clínica, e recolher o máximo de informação acerca de como ajudar a criança em causa. Cada criança é única e merece todo o apoio educativo para o seu desenvolvimento futuro.





O insucesso escolar não pára de aumentar, e em alguns casos os alunos são apelidados de preguiçosos, distraídos e cabeças no ar esperamos contribuir como muitos outros profissionais de saúde têm feito para a divulgação do Sindroma de Deficiência Postural, e abrir novos horizontes na sua abordagem e tratamento.





Teresa Garcia Escudeiro

(Fisioterapeuta e Osteopata)



Artigo publicado na revista "Coisas de Criança" - O Guia para Pais e Educadores (nº 23 de Outubro de 2009 com edição da Tuttirév)

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